Levantamos bem cedo, já no ritmo de expedição. Após o café da manhã, saímos para a trilha, mas eu estava insegura sobrea direção que devíamos tomar. Voltamos, entrei no Bonhomme e fui perguntar aos anfitriões qual trilha deveríamos seguir hoje, já que, como de costume, havia trilhas indo e vindo de todos os lados naquele trecho. Realmente estávamos pegando o sentido errado..rsrs, mas está perdoado, não havia sinalização nenhuma nas proximidades do refúgio, de toda forma o erro seria de no máximo 1km, onde certamente haveria uma sinalização que elucidaria nosso erro.
Nosso primeiro ponto é a vila de Les Chapieux (1.549m), alcançada por uma bela descida para começar o dia, já que nos encontramos a 2.479m. E põe bela nisso, no sentido literal. Que manhã maravilhosa!!! Vistas durante a hora mágica, a luz batia nas montanhas e dava uma sensação de caminhar dentro de um belo quadro. Que presente, que presente do céu!
Seguindo a rota oficial do TBM, pegamos o caminho pelo vale Raja, com muitos riachos a atravessar (muito tranquilos) em um terreno bem ondulado. Havia algumas pequenas flores brancas no trecho, acredito que em outras épocas elas devam ser mais abundantes (em variedades). À medida que fomos descendo, fomos entrando em um cenário de pastagens. Embora dura, a descida foi uma caminhada agradável.
Chegamos a um Chalé, Plan Várrano (2.013m), que visualmente parecia ser o fim da descida, mas ainda havia um bom declínio até Chapieux. A partir daí a trilha ficou um pouco duvidosa, em um zig-zag sem fim, pois por se tratar de área de pastagem, ao que parece, a trilha constantemente muda de lugar, conforme necessidade do pastoreio. Mas nada muito complicado, a vila já estava visível desse ponto, bem como uma rodovia de acesso à região.
As primeiras coisas que procurei em Les Chapieux foram: banheiro e um lugar para comprar o lanche de trilha. Como mencionei, no dia anterior não conseguimos encomendar um no Bonhomme, então era uma preocupação para o dia. A vila é um encanto! Muito pequena, mas, também, muito charmosa, dá vontade de ficar um tempo ali. Ela é basicamente um grande camping com uma excelente estrutura, sem falar na beleza em volta, rodeada de montanhas. O nome dessa região é Alpes de Beaufortain, depois descobri que há inclusive um Tour com esse nome: Tour de Beaufortain. Ah, não! Onze dias só dão para degustar um pouquinho da região.
Encontramos banheiro público, parada de transporte público com horários fixados, um albergue (Alberge-Refuge de La Nova – ao que parece o único), um pequeno mercado/café, onde fizemos um lanche de reforço e compramos mais algumas coisas para viagem (oh, medo de passar fome…rsrs). Atravessamos a aldeia, 3 minutos são suficientes, encontramos uma fonte e iniciamos um trecho em estrada. Embora asfaltada, a pista não parecia oferecer perigo, aparentemente o trecho era para trânsito de vans (transporte público), poucos veículos de passagem e motorhomes. Em seguida, o percurso saiu da pista e entrou em trilha, margendo um rio.
Iniciou-se, para mim, um dos trechos mais lindos do TMB. Mágico! A trilha, as cores, as flores, as montanhas em volta, o pico nevado à frente (Aiguille des Glaciers – 3.816m), a marmota no rio ao lado e encostas suaves. Passeio no paraíso!!! Sabia que viria uma bela subida em seguida, quem liga!? Quero curtir esta maravilha, carpe diem.
Passamos pela La Ville des Glaciers (1.789m), onde há algumas casas, uma capela e um grande estacionamento com sanitários. Fui ao banheiro, esqueci meus bastões nesse ponto e tivemos que voltar. Para variar, o ponto conecta trilhas de várias direções, incluindo alternativas ao TBM. Nosso próximo ponto de referência é o Refuge des Mottets (1.870m).
O Mottets também possui restaurante, fizemos uma parada e, para nossa surpresa, lá serviam de tudo, inclusive lasanha. Entretanto, estávamos com a mochila cheia de sanduíches e petiscos…oh, se eu soubesse. Fiquei babando os pratos de alguns trekkers que comiam no local. Pedimos refrigerante (só tomo nessas situações em que o corpo carece de mais açúcar) e, para não deixar de experimentar uma delícia do local, pedimos um crepe doce para sobremesa.
Chegada a hora da verdade, a partir do Mottets se inicia a subida até o Col de la Seigne (2.516m), mais do que importante estarmos bem abastecidos. Mottets foi estratégico!
Coloquei meus fones de ouvido e minha seleção de músicas da viagem. A música e um dos artifícios que uso para encarar trechos que demandarão além do que eu imagino ser meu limite..rsrs. Lembrando que já descemos cerca de 1.000 m hoje, desde o Bonhomme. Subi, devagar e feliz. Emerson seguiu o ritmo dele, mais rápido, e esperava quando eu me distanciava muito. Eu parava a todo momento, não pelo cansaço, mas para apreciar a vista que estava atrás de nós: o lindo vale que percorremos nas horas anteriores.
Não posso dizer que essa subida foi desgastante, pois a beleza compensou a dificuldade. A música, a vista, a energia, um monte de pedras marrons rolando lentamente montanha abaixo…hã, pedras rolando? Fitei alguns minutos para ver se não era uma miragem – Meu Deus, estou vendo pedras se mexerem?! – Eram ovelhas, lindas ovelhas, orquestrando uma descida em manada, conduzidas por seu pastorzinho (um cachorro). Gritei meu marido para ele ver, mas o vento naquele ponto não o deixou me ouvir. O que passou pela cabeça? É por isso que estou aqui, que momento cênico!
Continuamos até chegarmos bem próximos delas; apreciamos, tiramos muitas fotos, e o cansaço? Não me lembrei disso, era só alegria. Eu tinha vontade de dançar ao som da música que ouvia, e realmente o fiz, assim que cheguei ao Col de la Seigne (vídeo da dança no Instagram).
Caminhamos mais um trecho e: chegamos à Itália! E em uma das primeiras vistas panorâmicas do maciço do Mont Blanc. Havia muito vento no Col, mas sentamos para apreciar, não poderia ser diferente. Com o dia lindo, era possível ver a trilha que se seguiríamos à frente e mais além.
Pela primeira vez no Tour, encontramos outros brasileiros fazendo a trilha: 3 amigos juntos e um mineiro sozinho. O mineiro estava fazendo o TMB no modo mais raiz, acampando. Não é uma tarefa muito fácil, pois nem todos os pontos são possíveis de acampar, demanda outra logística, e ele, por exemplo, andaria praticamente dois trechos naquele dia para poder acampar. Estava com mais de 12Kg na mochila certamente. Um cavalo!
Faltando 4km para nossa parada do dia, o Rifugio Elisabetta (2.180m), um dos mais bonitos e bem localizados do TBM com certeza. Seguindo em meio a lindas paisagens, mas agora o cansaço já batia. Chegamos nos arrastando na subidinha onde ficava o Refúgio, mais um de montanha. Que vista! A janela do quarto tinha de fundo uma cachoeira do degelo das montanhas (tem vídeo nos destaques do Instagram), quer mais?
A cama, estilo “tabão”, com colchão único tipo “unidos venceremos”, mas com espaço suficiente para não levarmos uns chutes de noite…rsrs. A comida? Gente, chegamos na Itália, o padrão é outro! Tinha um belisco inicial (que me esqueci como eles chamam, perdão, mas estou acostumada com arroz com feijão..rs), depois um primeiro prato, um segundo prato e a sobremesa. Por hoje é só, descansar, que amanhã tem mais!
Realizado em 16 de agosto de 2019.
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