Acordar e tomar café no Rifugio Elisabetta (2.180m) foi um daqueles dias que batem a vontade de ficar um pouco mais. Com um convidativo clima de montanha, aquecidos no refúgio, com uma vista maravilhosa, complementada pelo amanhecer, que brilhava no sentido do trecho a ser percorrido no dia, o desejo era ficar. Entretanto, a missão do dia nos esperava, o que incluía outras vistas de tirar o fôlego, agora a partir de território italiano.
O sol brilhante do lado de fora não denunciava o frio cortante que soprava na altura do refúgio. Iniciamos a trilha cobertos, apenas olhos de fora da touca e balaclava. Iniciamos uma pequena decida a partir do refúgio, a qual levava a uma estrada de chão que é acesso de veículo e naturalmente melhora bastante a logística de abastecimento do Elisabetta.
Diante do lindo dia e da boa previsão meteorológica, nesse dia podemos optar pela rota principal do TMB. O guia indicava a necessidade de pegar a rota alternativa (pelo Val Veni) em caso de mau tempo. O guia não indicava grandes ascensões no trecho de hoje (apenas 500m), pelo contrário, o desafio maior do dia seria descer (cerca de 1500m).
Após cerca de 4km de trechos que alternaram entre planos e suaves descida, chegamos até as proximidades do Lac de Combal (1.960m), havia uma cabana ou refúgio do outro lado do lago e víamos vários trekkers indo na direção da rota que passava próximo. Mais um vez se instalou a vontade de voltar um dia: gostaria de ver tudo, explorar tudo, cada trecho… Mas vamos deixar o FOMO (fear of missing out) de lado e carpe diem.
Pegamos uma trilha à direita, agora em ascensão constante, o que nos levaria primeiramente até o L´Arp Vieille Supérieure (2.303m), e em seguida à crista norte do Mont Favre (2.430m). Não senti a subida tão pesada hoje, o tempo estava bom, não tínhamos pressa, o corpo já estava mais acostumado, podíamos parar para fotos e lanches tranquilamente. A subida foi suave.
Percebemos que a sinalização na Itália era bem menos “robusta” que na França. Um pouco mais rústica, às vezes até ausente, mas nada que prejudicasse a orientação, apenas fizemos comparações inevitáveis. Também notamos que os “Bon jour” foram consideravelmente substituídos por “Buongiorno“. Isso é engraçado, pois parece que cada um se concentra em caminhar os pedacinhos que competem ao seu país, embora estejam colados e sejam quase uma coisa só em termos de distância naquela região.
Hoje as vistas estavam concentradas à nossa esquerda. Após o ponto mais alto do dia (2.430m), iniciamos trechos de suaves decidas. À nossa direta vimos infraestrutura de uma estação de esqui recém construída. O caminho atravessa prados e vai descendo entre árvoves, encontramos muitos locais nesse trecho: corredores, famílias com crianças, inclusive animais de estimação – o verdadeiro “passeio no parque”.
O trecho estava lindo, mas o cansaço foi batendo, juntamente com a fome. Vinhamos em uma descida constante e o calor já prevalecia na trilha. Enfim chegamos a um “oásis” do reabastecimento, o Maison Vieille (Café e refúgio). O lugar realmente parece um parque, em uma extensão plana gramada, em uma posição muito favorável para vistas, tanto para o Mont Blanc (que aqui eles chamam de Monte Bianco), quanto para partes de um vale.
Foi hora de parada para descanso e comer algo. Mais uma vez fomos lembrados que estávamos na Itália, terra da fartura. Em vez de sanduiches ou croissaint, havia várias opções de pratos e massas, nesse lugar. Comi um à bolonhesa, e meu marido, o que ele definiu como o melhor spaguetti a carbonara da vida. Ok, pode ter sido efeito do cansaço e da fome, mas o prato estava bonito e fiquei só na vontade, já que havia pedido a outra opção de espaguete.
Que bom nos reabastecemos, pois o que veio depois foi uma das decidas mais desgastantes que já enfrentamos: Emerson quase “pediu para sair”. Até Courmayeur (1.120m), nosso destino do dia, foram mais 800m em declive acentuado, no meio de uma floresta em zig-zag e com muitos galhos. As unhas choraram, bateu uma vontade imensa de pegar carona no teleférico que vimos logo no início da descida, mas pensei e falei: não vim aqui para pegar atalhos.
Chegamos a Courmayeur, a “Chamonix da Itália”, uma cidade muito gracinha. Após encontrar nossa pensão (bem arrumada, confortável, mas sem Wi-FI), saímos para compras, sorvete, jantar e no final um vinho, que tomamos na grande varanda com vista para as montanhas que havia em nosso quarto. Merecíamos!
No final do dia, ao estudar a rota do dia seguinte, eu precisava tomar uma decisão dificil, tendo em conta que não consegui reservar o refúgio de montanha que gostaria. Talvez teríamos que pular uma parte da trilha por ser loucura fazer tudo em um só dia. São cenas para o próximo post.
Trecho realizado em 17 de agosto de 2019.
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