Quando iniciei o planejamento do Tour du Mont Blanc, a ideia era fazê-lo de forma completa e aproveitando o máximo de refúgios de montanha possível. Infelizmente esse planejamento para quem nunca esteve na região não é algo muito simples. O período que escolhemos para ir (alta temporada) trazia algumas dificuldades adicionais, uma delas era a indisponibilidade de vagas em refúgios mais disputados.

Escolha difícil no início do trekking do dia

No quinto dia, tivemos que fazer a difícil escolha de pular um pequeno trecho. Era difícil por dois motivos. Um deles era que eu não gostaria de perder a oportunidade de percorrer nenhum dos trechos do Tour. A outra alternativa era enfrentar um desnível acumulado de mais de 2000m no percurso do dia desde Courmayeur (1.120m). Isso estava muito além dos meus limites, essa era a dificuldade número dois. Tive que escolhe entre elas.

Esse probleminha ocorreu substancialmente porque quando fui fazer as reservas (bem antecipadamente) dos refúgios e hospedagens afins, não encontrei uma alternativa que viabilizasse uma melhor divisão desse e dos dias seguintes. Em resumo, não consegui fazer reserva em um dos refúgios mais disputados e bem localizados do Tour du Mont Blanc: o Refúgio Bonatti (2.022m).

Dessa forma, eu tive que estudar uma maneira de iniciarmos o trecho do dia um pouco mais à frente (Val Ferret), evitando parte do excessivo desnível acumulado do dia. Entretanto, fiz questão de iniciar o trecho por um ponto que possibilitasse ao menos uma visita ao tal Refugio italiano e aproveitar um pouco do seu visual.

De ônibus pelo Val Ferret

De Courmayer, pegamos um micro-ônibus para chegar próximo ao ponto de acesso à trilha, dentro da região de Val Ferret. Havia vários acessos, e só soube escolher bem pois eu tinha um guia muito detalhado dessas alternativas. Quando no ônibus, percebi o quanto a subida seria dura naquela saída de Courmayeur, caso fôssemos pela trilha. Ao consultar o guia, analisei que seriam 1.760m de aclive entre Courmayeur e o Bonatti. Isso é normal no trekking do Tour du Mont Blanc…rsrs, mas, além desse, ainda haveria mais desnível acumulado no trecho adiante. O problema seria a soma de tudo em um único dia. Eu amo desafios e até busco superar meus limites, mas isso estava muito acima deles.

O “pobre” do micro-ônibus subiu de forma lenta os quilômetros da rodovia acima, parando religiosamente em cada parada bem identificada (ah, primeiro mundo!). Nesse percurso, pude observar muita área verde e parques em volta. Ao mesmo tempo, sentia uma dorzinha no peito por não estar aproveitando a vista à partir da trilha, certamente muito espetacular. Tive mais certeza disso depois de acessarmos a trilha.

Parada inspiradora no Rifúgio Bonatti

Iniciamos a trilha bem próximo da parada de ônibus. Enfrentamos um aclive considerável: 325m de desnível, para ser exata, em cerca de 1 quilômetro. Quando vencido o trecho, chegamos em bifurcações e tivemos que voltar parte da trilha para chegar ao Rifúgio Bonatti. 

Eu precisava conhecer esse “queridinho”. Embora, não possa responder muito pelas instalações do refúgio, já que não dormimos lá. Entretanto paramos para contemplar a vista maravilhosa que ele proporcionava (aí entendi uns dos motivos da concorrência), e ainda fizemos um bom lanche comprado no restaurante do local. Consequentemente, fotos, muitas fotos (capa do post)!  

Ele possui uma área externa com gramado e mesas, estava lotado de trekkers, e o dia estava lindo. Esse realmente é um pedacinho de paraíso com uma boa estrutura instalada. A parada estava boa, mas o nosso dia mal havia começado, ainda tinha muito chão pela frente (aclives e declives) até o Rifúgio Elena (2.062m), ainda na Itália.

Um dos trechos mais lindos do Tour du Mont Blanc

Sem dúvida esse é um dos trechos mais lindos do Tour. É muito lindo, o dia estava perfeito, e eu fazia muitas fotos e vídeos  para não me esquecer da sensação maravilhosa que eu sentia com aquela vista. Fiquei pensando no trecho que pulamos, com certeza era no mesmo nível de beleza deste: “preciso voltar” – registrei a “dívida”. A partir da trilha, conseguíamos ver as partes adiante do Val Ferret e suas instalações em volta: rodovia, rio, campings, etc. A região é muito encantadora. Lá nos destaques no Instagram @embuscadeparaisos você consegue ver muitos registros desse dia.

Após mais alguns quilômetro de trecho cênico, pegamos a trilha em declive, para acessar construções acima de Anurva (1.769m). Seguimos descendo em zigue-zahes até o chalé de Anurva, próximo à estrada no Val Ferret italiano.

Cruzamos uma ponte e aproveitei para me refrescar um pouco no riacho que corria embaixo dela. Água gelada, naturalmente proveniente das montanhas. Mas era uma água bem cristalina, diferente do rio mais robusto que corria nas enconstas pelo Val Ferret.

Em termos de distância, faltava pouco para chegarmos ao Refugio Elena. Mas ainda haveria um considerável aclive até chegarmos ao ponto de descanso. O percurso sobe um esporão e ao chegarmos na crista avistamos uma cachoeira cravada nas montanhas. Pela localização, era a “fonte” das águas que usei para me refrescar nos instantes anteriores.

Depois de subir por um tempo a trilha se torna uma rota de contorno constante. Logo avistamos o refugio e após mais alguns minutos, chegamos à nossa parada.

Rifúgio Elena

Mais uma grata surpresa no Tour du Mont Blanc

O Refúgio Elena foi mais um que nos surpreendeu positivamente. Ele fica de frente para parte da cadeia de montanhas da face italiana do Tour. A estrutura (quartos, camas, cozinha, banheiros, etc.) bem nova e limpa. O banho era por meio de moeda com tempo máximo de ducha (nada que um bom aventureiro não tire de letra). Ao lado do quarto havia uma porta de saída fácil para a área externa e vista das montanhas.

Vamos falar de comida de novo? Na Itália não há como não falar. Seguindo o modelo do refúgio anterior, tivemos aqueles banquete. Assim, foram diversos pratos seguidos, que não deixou brecha para alguém dizer que tinha ficado com fome. Foi um local de um belo descanso e renovação de ânimos. Até porque, o dia seguinte prometia bastante emoção, quando atravessamos para a Suíça. Não perca os próximos posts. Se não viu os anteriores, é só acessá-los pelos links listados em seguida.

Trecho realizado em 18 de agosto de 2019.

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