Iniciamos o Tour Du Mont Blanc (TMB) pelo seu ponto de partida e sentido oficiais, ou seja, saindo de Les Houches (1.010m), no sentido anti-horário; ressalta-se que o TMB pode ser feito a partir de qualquer ponto e em qualquer dos dois sentidos. No primeiro dia já optamos por fazer o percurso alternativo, passando pelo Col de Tricot (2.120m), que prometia uma desafiadora variação altimétrica, mas em compensação nos ofereceria trechos com vistas para as altas montanhas. A rota alternativa deve ser escolhida a partir do Col de Voza (1.650m), assim, de Les Houches até esse ponto, já encaramos uma boa subida. No primeiro dia, a adrenalina corria nas veias, houve muitas paradas para fotos. Quando chegamos ao Col de Voza, nos deparamos com um dos primeiros pontos que oferecia uma estrutura de apoio para os trekkers: um Café, banheiro, água potável, mapas de orientação, etc. Os pontos anteriores estavam todos fechados por oferecerem serviços focados na temporada de inverno.
Hesitamos alguns minutos para decidir, mas a vontade de seguir o trecho mais desafiador e bonito falou mais alto. Vimos vários trekkers seguindo o sentido que passava pelo Col de Tricot e assim fomos também. A rota oficial segue pelo Bionnassay (1.320m), composto por colinas cobertas de florestas e pastagens, com muitas aldeias e pequenos vilarejos no percurso. É sentido obrigatório em caso de mau tempo (tempestade ou neve no chão). Certamente um trecho lindo também, mas deixamos essa parte para nosso próxima ida (com certeza voltaremos). Nosso destino do dia era Les Contamines (1.160m), a cerca de 19km de Les Houches por trilha.
O dia estava lindamente lindo, em pleno verão. Isso nos deu muito ânimo para encarar o que vinha em seguida, embora minha fobia de altura sempre acrescente uma dose de ansiedade nesse tipo de percurso. E os desafios foram se intensificando a partir desse trecho: seções rochosas curtas, com corrimão de apoio; single tracks, ponte sobre cachoeira e precipício e tome subida em terreno acidentado. Muitos trekkers solos passando por nós, grupos grandes também, o que já nos reforçou a expectativa de alta temporada.
Constantemente eu checava o guia em PDF que levava no celular, para ter certeza de que seguíamos a rota correta. O TBM possui inúmeras, inúmeras trilhas paralelas, além das rotas principais (oficiais e alternativas). Continuávamos subindo e o tal do Col de Tricot não chegava nunca… Entretanto, parávamos para muitas fotos, era muita beleza para um dia só…
Desse ponto em diante foi o percurso que eu costumo dizer que separa os homens dos meninos…rsrsrs. O Col de Tricot estava próximo, mas como eu disse, parecia não chegar nunca. Já estávamos bem cansados de uma subida de quase 1.000m, agravada pela pouca comida na mochila, tínhamos apenas petiscos e alguns doces. Confiamos nos pontos de apoio apontados no guia, mas como eu disse anteriormente, muita coisa estava fechada por conta da temporada.
Enfim chegamos ao Tricot, tinha bastante gente sentada, contemplando aquele visual. Emerson sofreu um choque térmico com o vendo gélido das montanhas que soprava naquele ponto, ele passou um pouco mal. Eu simplesmente não consegui tirar muitas fotos desse ponto, tamanho era meu cansaço, apenas sentei. Eu só queria descansar, pois agora viria uma descida até o Refuge de Miage (1.559m) – que era possível de ser avistado lá de cima e que prometia mais desafio. Percebi que no Col havia diversas trilhas passando por ali, vindas de quatro lados diferentes, realmente um paraíso de opções para os trekkers.
Depois de uma longa e interminável descida, e algumas unhas fadadas à perda total…rsrs, chegamos ao Miage. Refúgio e restaurante estavam lotados, quase não conseguimos uma mesa… Que visual era aquele? “Ainda quero voltar e ficar mais tempo aqui…”. Mas não podíamos ficar muito dessa vez, a jornada até Les Contamines ainda era looonga….e põe longa nisso. Barriguinhas abastecidas, vamos para o próximo desafio: voltar a subir.
O que estou fazendo aqui? Já se fez essa pergunta? Eu já, diversas e diversas vezes durante desafios como esse. A resposta vem momentos depois, às vezes dias depois, e é sempre compensadora. Depois do Miage, voltamos a subir, o visual era lindo, “estarrecedor”, mas estávamos muito cansados: um misto louco de sentimentos: de querer chegar logo, mas também de querer aproveitar cada segundo.
Estávamos a 1.750m, no Mont-Truc, o guia indicava um desvio para conhecer o cume do monte: “fica para a próxima também, eu preciso da energia que resta para chegar viva à comunidade de Les Contamines”. Iniciamos então a descida, cerca de 600m de decréscimo na altitude, para terminar de liquidar as unhas que restaram…rsrs
Depois de uma longa e dolorosa descida, no estilo estradão de caminho, chegamos ao vilarejo… ufaaaaa! Mas a comemoração durou pouco. A comunidade era até grandinha, então, achar nosso albergue do dia se revelou outro desafio. Voltas e voltas e o mapa off-line não ajudou muito. Pedir ajuda em francês, foi difícil, fomos em inglês mesmo, mas não ajudou muito. O jeito foi encontrar o centro de apoio ao turista para conseguir achar o danado do nosso oásis de descanso do dia. Uma alma bondosa do local conseguiu nos orientar em inglês, e depois de mais uma caminhadinha pela cidade, achamos nosso albergue. Fomos os últimos a chegar, os anfitriões já esperavam por nós. Só tive forças para um banho e para comer. Emerson, idem. Será que sobrevivemos aos próximos dias? Meu pensamento ao deitar.
Curiosidade: o nome da vila, Les Contamines, vem da palavra contamines, que no antigo dialeto local significava terra plantável.
Realizado em 14 de agosto de 2019.
[blockquote align=”none” author=”Grabrielle Roth”]O caminho mais rápido para aquietar a mente é mover o corpo.[/blockquote]
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